27 junho 2005

Concerto Anual da Orquestra Filarmónica de Berlim na Waldbühne - Berlim, 26/6/2005


Por favor, carregue no botão play para ver o video do final do espectáculo.

Realizou-se ontem o famoso concerto que a Orquestra Filarmónica de Berlim apresenta anualmente na Waldbühne (Wald=floresta/Bühne=palco) e que é habitualmente transmitido pela estação de televisão 3SAT.
Para os que não conhecem este espaço, a Waldbühne é um anfiteatro ao ar livre integrado numa grande zona verde, perto do Estádio Olímpico, com capacidade para cerca de 25.000 espectadores. Durante o Verão são realizados aqui vários concertos, dos quais aquele que teve lugar esta noite é certamente um dos mais populares.
O tema deste ano foi Eine französische Nacht (Uma noite francesa), tendo em anos anteriores havido já, nomeadamente, Uma noite espanhola, com direcção de orquestra de Placido Domingo, e Uma noite russa, na qual foi interpretado o Concerto para piano e orquestra de Tchaikovsky pelo famoso pianista Lang Lang.



Início do Carnaval dos Animais - Camille Saint-Saëns


O Cisne do Carnaval dos Animais - Camille Saint-Saëns
Durante este trecho o público, miúdo e graúdo, ficou hipnotizado.
O instantâneo do casal "menos jovem" é deste momento.

Por favor, não esquecer de desligar o som do vídeo antes de carregar nestes botões

O concerto começa às 20:15, hora local, ainda com luz do dia. Progressivamente, vai escurecendo, até que o concerto acaba já de noite fechada. O ambiente poder-se-á comparar ao do célebre concerto Last Night of the Proms inglês, embora seja menos esfuziante, excepto no apoteótico final no qual a orquestra toca, todos os anos, a peça Berliner Luft (que têm estado a ouvir) acompanhada pelas palmas do público.
Entre as bancadas e o palco existe um relvado, onde muitos espectadores se sentam em cima de mantas. É vulgar levarem também consigo bebidas e alimentos. Há sempre muitas crianças presentes, apesar do concerto acabar a uma hora na qual é hábito, na Alemanha, as crianças já se encontrarem a dormir.
Tudo isto contribui para tornar este concerto um espectáculo sui generis e demonstra que o formalismo de uma sala tradicional não é condição indispensável para a fruição da chamada música clássica.

Poderão ver o programa do concerto através desta link. De acordo com o tema da noite, foram tocadas peças de compositores franceses do final do século XIX e princípio do século XX. A orquestra foi dirigida por Sir Simon Rattle e como solistas actuaram as pianistas "irmãs Labèque". Foram apresentadas como encore, as peças Gymnopédie nº1 de E. Satie e a Danse Générale de Daphnis et Chloé de M. Ravel.

Que tal alugarmos um autocarro e irmos a Berlim, no próximo ano? Já se encontram abertas as inscrições:)

(A reprodução de imagens e sons efectua-se com intuitos meramente didácticos)

23 junho 2005

S.João Bonito


São João, santo bonito,
bem bonito que Ele é, (bis)
com os seus caracóis d'ouro
e o seu cordeirinho ao pé. (bis)
Não há nenhum assim!
Pelo menos para mim...
Nem mesmo São José!

S.João Bonito - A.L.Ribeiro/F.Freitas
Se estes compositores fossem do Porto:), talvez tivessem escrito as seguintes peças numa bela noite de S.João:


A B C
D E
Antes de carregar nestes botões, por favor desligue o som do topo
Quem quiser participar numa pequena brincadeira, poderá resolver este puzzle e fazer corresponder o som à imagem do respectivo compositor.

19 junho 2005

A Fuga ou O Regresso da Teoria Pura e Dura - Parte II (The Sequel)

Na sequência do post anterior, vamos prosseguir a nossa análise da peça Sicut locutus est. Já nos tinhamos debruçado sobre a Exposição (do início a 0:30) e agora, tal como prometido, iremos abordar o Desenvolvimento (de 0:30 a 1:06) e a Re-Exposição (de 1:06 até ao final).

Desenvolvimento:
Acabada a Exposição, começa o que se denomina por Desenvolvimento e que é normalmente constituído por Episódios intercalados por Entradas Intermédias. Nesta peça, o Desenvolvimento não se inicia com um Episódio, mas encontramos primeiro uma Entrada Intermédia e seguidamente um Episódio.
Entrada Intermédia:
Esta parte é caracterizada pela existência de entradas de tema e contratema por outra ordem que a da Exposição.
Nº de vozes: 2 a 5 (ver gráfico)
Episódio:
O Episódio desta fuga basea-se no início do contratema (cabeça do contratema) que corresponde ao texto "Abraham et semini ejus". Esta cabeça do contratema é cantada em todas as vozes simultaneamente e em vários tons, criando modulações (mudanças de tom). No final do episódio, algumas vozes cantam partes livres, com o texto "in secula", preparando o início da Re-Exposição.
Nº de vozes: 5 (ver gráfico)

Re-Exposição:
Nesta fuga a Re-Exposição inicia-se com os baixos, que cantam a resposta, acompanhados pelos contraltos que cantam o contratema. Seguidamente, os baixos cantam um contratema alterado (um pouco mais longo), enquanto as restantes vozes cantam a cabeça do contratema, levando-nos à cadência final.
Nº de vozes: 3 a 5 (ver gráfico)

Gráfico:

Para ampliar este gráfico, clique aqui

Decidimos colocar aqui outra interpretação desta peça, que entretanto obtivémos, pois achamo-la também muito interessante. Nesta versão, o coro tem menos elementos, tornando-se assim mais perceptível o percurso de cada voz.

Cedido pela Mi

14 junho 2005

A Fuga ou O Regresso da Teoria Pura e Dura

Quando falámos sobre a Flauta Mágica, referimos que na Abertura desta ópera existe uma fuga e prometemos escrever, mais tarde, sobre este assunto. Posteriormente, recebemos alguns comentários onde era manisfestado o interesse por esta matéria. Decidimos assim dedicar este post e o post seguinte à fuga, antes de uma pequena brincadeira que estamos a planear para o fim de semana do S.João.
Não é um tema fácil de abordar, pois a fuga é decerto a forma mais complexa de todas. Já focámos anteriormente, a propósito de Charpentier, outra forma, neste caso o rondó. Para além da fuga e do rondó existem mais formas musicais que procuraremos também tratar em próximos posts.

A essência da fuga, consolidada enquanto tal no Séc. XVII, consiste na imitação. Já no rondó medieval existia imitação, através da repetição sucessiva do refrão. Posteriormente, na transição para o Renascimento, podemos encontrar uma forma chamada Caccia, na qual uma voz (neste sentido, a palavra voz não significa apenas a voz humana, mas também um instrumento) "perseguia" a outra, imitando-a. Esta estrutura foi desenvolvida no período barroco, dando assim origem à fuga.

Em linguagem simples, pode dizer-se que a fuga se basea num tema que vai saltando de voz para voz (na maioria 3 a 4 vozes).
A estrutura da fuga possui três fases: Exposição, Desenvolvimento e Re-Exposição.

Esta semana, vamos observar a primeira fase, ou seja a Exposição. Nela, existe o tema, a resposta e o contratema.
Escolhemos como fuga para a análise, o andamento "Sicut Locutus Est" do Magnificat de J.S.Bach, dado que é uma peça vocal, o que facilita a explicação.

Como em todas as fugas, esta peça inicia-se com uma voz, neste caso os baixos, à qual se vão juntar, uma a uma, as outras vozes, até que no final da Exposição4 vozes simultâneas.

Tema:
No início, o naipe dos baixos canta o tema, ou seja o texto "Sicut locutus, locutus est ad patres nostros".
Nº de vozes: 1

Resposta e Contratema:
Depois do naipe dos baixos ter cantado o tema, entram os tenores, cantando a resposta cujo texto é igual ao do tema, embora o tom seja mais agudo.
Enquanto os tenores estão a cantar a resposta, os baixos cantam o contratema, ou seja o texto "Abraham et semini ejus in secula".
Nº de vozes: 2

Tema:
Aos baixos e aos tenores, juntam-se agora os contraltos que cantam o tema, ou seja "Sicut locutus, locutus est ad patres nostros", uma oitava acima. Com a entrada dos contraltos, os baixos passam a cantar, o que se chama tecnicamente, uma parte livre e os tenores passam a cantar o contratema, ou seja "Abraham et semini ejus in secula", noutro tom.
Nº de vozes: 3

Resposta e Contratema:
Nesta altura, estão a cantar os baixos, os tenores e os contraltos, aos quais se vêm juntar os sopranos2 (nesta obra, os sopranos estão divididos em sopranos1 e sopranos2. Os sopranos1 não entram ainda) que cantam a resposta, ou seja "Sicut locutus, locutus est ad patres nostros", noutro tom.
Após a entrada dos sopranos2, os contraltos (que estavam a cantar o tema) começam a cantar o contratema, ou seja "Abraham et semini ejus in secula". Os baixos e os tenores cantam partes livres.
Depois dos sopranos2 cantarem a resposta (ver acima) cantam ainda o contratema, ou seja "Abraham et semini ejus in secula", no mesmo tom em que os tenores o cantaram. Enquanto os sopranos2 cantam este contratema, as outras 3 vozes cantam partes livres.
Nº de vozes: 4

E assim se conclui a Exposição (duração 30 seg.).
Esperamos que não tenham achado esta explicação muito confusa. É extramente difícil resumir em poucas palavras uma matéria tão complexa.

Na próxima semana, iremos focar o Desenvolvimento (de 0:30 a 1:06.) e a Re-Exposição (de 1:06 até ao final) e apresentar uma análise esquemática da peça (duração total 1:23).

Nota: Como foi referido no início, a palavra voz refere-se não só à voz humana como a qualquer instrumento. No caso de fugas instrumentais, continua-se a falar de várias vozes, apesar da peça não ser cantada.

(Existe um link, sobre fugas de Bach, colocado pelo aa no post relativo à Flauta Mágica)

13 junho 2005

In Memoriam: Eugénio de Andrade (1923-2005)

Apesar deste blog ser, em princípio, apenas dedicado à música, não quisemos deixar de nos associar à homenagem de outros bloggers, deixando aqui este poema acompanhado pela magistral guitarra portuguesa de Carlos Paredes.


As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam,
barcos ou beijos
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

11 junho 2005

Da música (enviado pela Mitsou)

1 - Tamanho total dos arquivos no computador (apenas de música):
14,5 GB

2 - Último disco que comprei:
CD duplo dos Comedian Harmonists (Grupo alemão dos anos 30 composto por 5 cantores e 1 pianista. Com a subida ao poder dos nazis, o grupo foi proibido, porque parte dos elementos eram judeus.

3 - Canção que estou a escutar agora:
More than you know - Jane Monheit (gosto mais do que da Krall).

4 - 5 canções que oiço frequentemente ou que têm algum significado especial para mim:
Se a pergunta dissesse "música", a resposta seria obviamente diferente. Tratando-se apenas de canções, escolhi estas:

- Dance me to the end of love - Madeleine Peyroux (gosto muito desta versão da canção do L.Cohen)

- I wish you love - Chrissie Hynde (música da canção Que reste-t-il de nos amours de C.Trenet com letra em inglês. Devem ter ouvido no filme The eye of the beholder de Stephan Elliot)

- Valsinha - Chico Buarque

- Um Mitternacht - Lied sinfónica de G. Mahler - Janet Baker

- Avec le temps - Léo Ferré

5 - Lanço o testemunho a 4 bloggers:
Isto é que é mais difícil, visto que não posso enviar nem para a Andorinha, nem obviamente para a Mitsou.
Ao Portocroft (VAT69), que compõe música com as palavras.

Carregando aqui, poderão ouvir uma canção dos Comedian Hamonists, chamada Veronika, Der Lenz Ist Da, que foi o seu primeiro sucesso.

05 junho 2005

Carlos Seixas: um cravista e compositor português

Nasceu em 1704 e viveu apenas 38 anos, José António Carlos de Seixas, o mais importante compositor português de música de tecla do Séc.XVIII.
Restam-nos da sua obra, que terá sido mais vasta, cerca de 105 sonatas para instrumentos de tecla e ainda 3 importantes peças que constituem casos ímpares na música portuguesa setecentista: uma Abertura em estilo francês, uma Sinfonia em estilo italiano e um Concerto para Cravo e Orquestra que é um dos primeiros exemplos do género em toda a Europa (Cf. Kastner, Carlos de Seixas, Coimbra, 1947).


Carregando no botão, poderão ouvir o final do Allegro e o Minuetto I da Sonata nº9 em Dó Maior para cravo de Carlos Seixas, uma peça que porventura muitos de vós já terão ouvido antes.
Contudo, mesmo os apreciadores de música antiga provavelmente nunca terão observado o interior de um cravo.
Existem vários tipos de cravo: italiano, inglês, francês e flamengo. Também em Portugal, principalmente durante o Séc.XVIII, foram construídos cravos ao estilo italiano. Recentemente, um destes cravos, do qual posteriormente falaremos com mais pormenor, foi restaurado pelo IPPAR e encontra-se em exposição no Museu da Música em Lisboa.


O interior do Cravo Italiano


A figura 1 mostra o instrumento sem caixa de ressonância nem cordas. A figura 2 representa o teclado e na figura 3 pode observar-se o suporte do plectro (a pequena saliência pontiaguda no topo) que serve para beliscar as cordas (ao contrário do piano, no qual as cordas são percutidas).
Os excertos desta Sonata de C. Seixas foram interpretados num teclado que, devido às maravilhas da técnica, reproduz fielmente o som do cravo. Talvez tenham notado um pequeno "click" no final de cada parte (isto acontece no final de todas as notas, embora seja mais audível nos finais de secção). Trata-se da reprodução do som que um cravo autêntico produz quando o plectro regressa à sua posição original, depois de beliscar a corda.
Conforme anteriormente mencionámos, existe no Museu da Música um exemplar raro da escola de construção de cravos nacional. Trata-se de um instrumento construído por Joaquim José Antunes em 1758 e que, nos últimos anos, foi utilizado por cravistas, tais como Rui Paiva, em várias gravações de peças de Carlos Seixas.
Links: