28 março 2006

O Cravo Bem Temperado

J.S.Bach e três dos seus (muuuuuuuuuuitos) filhos
Estão a ouvir a Fuga nº2 em Dó menor de J.S.Bach (na versão para piano interpretada por Glenn Gould). Esta peça faz parte da obra conhecida como O Cravo Bem Temperado a qual possui dois volumes chamados cadernos. Em cada um destes cadernos, estão incluídos 24 conjuntos de Prelúdios e Fugas, correspondendo a todas as escalas maiores e menores existentes. Assim, cada "conjunto Prelúdio e Fuga" está composto numa tonalidade diferente. Como é lógico, o primeiro conjunto é em Dó Maior, o segundo em Dó menor e assim sucessivamente, percorrendo todos os 12 meios tons das escala. Como estes 12 meios tons tanto podem ser tonalidades maiores ou menores, temos assim 24 conjuntos x 2 cadernos = 48 conjuntos ou 96 peças musicais :))))

Porque terá Bach chamado a esta obra O Cravo Bem Temperado? Será que havia um cravo "mal temperado"? De facto, sim, havia. No início do Séc.XVIII, coexistiam diversos sistemas de afinação (com nomes muito fáceis :)) de fixar aos quais voltaremos noutro post), os quais afinavam primeiro algumas notas do cravo e depois outras notas intermédias, gerando intervalos puros (certos) numas notas e intervalos irregulares noutras. Assim, era possível tocar apenas em algumas tonalidades e não em todas. Em meados do Séc.XVIII, surgiu um novo sistema de afinação que dividia a escala em 12 partes exactamente iguais. Este sistema subsiste até hoje nos pianos modernos. Claro que nenhum dos intervalos é puro, mas antes um compromisso, de modo a que todas as notas soem bem.
Bach foi o primeiro compositor a escrever uma obra que tirasse partido deste novo método de afinação, provando assim aos seus contemporâneos mais cépticos que era possível tocar em todas as tonalidades.

Trabalho de casa: descobrir quantos filhos teve Bach:) Como alguns saberão, vários foram também compositores, nomeadamente, Carl Philipp Emanuel Bach, Wilhelm Friedmann Bach e Johann Christian Bach.

22 março 2006

A Ópera do Malandro e seus antepassados

A canção do Malandro cuja música foi composta em 1928 pelo compositor alemão Kurt Weill e a letra, como é conhecido de todos, por Chico Buarque em 1978. Com efeito, esta canção faz parte da obra A Ópera do Malandro do mesmo Chico Buarque, segundo as óperas The Beggar's Opera de John Gay e Dreigröchenoper (A Ópera dos Três Vinténs) de B.Brecht/K.Weill.

A primeira, acerca da qual poderão encontrar aqui informação detalhada, foi composta pelo inglês John Gay (1685-1732), um contemporâneo e concorrente de Händel, em 1728. Este último compunha óperas em italiano, até John Gay introduzir, com The Beggar's Opera, libretti em língua inglesa.

Kurt Weill e Lotte Lenya

No Séc. XX, o escritor B.Brecht retomou o tema na peça A Ópera dos Três Vinténs, cujas partes musicadas são da autoria de K.Weill. Note-se que a música não é uma adaptação da ópera de John Gay, mas totalmente original. Poderão encontrar aqui informação acerca desta peça e ouvir o original da canção do Malandro interpretada pela mulher de K.Weill, a actriz Lotte Lenya.


Tal como Kurt Weill, também Chico Buarque compôs música original para a sua obra (exceptua-se a já referida canção do Malandro). Para além disso, os diálogos e as letras das canções são também originais e não simples traduções do texto de Brecht. A acção decorre no Rio de Janeiro, ao contrário das outras duas obras cuja acção decorre em Londres. Poderão ler aqui uma sinopse do enredo.
Recentemente, esta peça esteve em exibição no Coliseu de Lisboa e vai ser apresentada de 23 a 25 de Março no Coliseu do Porto. Como despedida, deixamos no botão abaixo a versão completa (de quase 5 minutos) da canção do Malandro.

14 março 2006

O Lied mais famoso de Schubert: O Erlkönig

Até agora já falámos muito de ópera, música de câmara, peças para piano, até mesmo de sinfonias, mas não tinhamos ainda focado este género musical. O Lied (à letra em alemão = canção) surgiu no final do período barroco, tendo atingido o seu auge no romantismo, com Schubert, Schumann, Brahms e Mahler.

O Erlkönig é originalmente um poema de Goethe que Schubert musicou para piano e voz, geralmente barítono. No vídeo abaixo, poderão, contudo, ouvir uma versão deste Lied para orquestra e voz (mezzo-soprano). A cantora Anne Sofie von Otter é uma das grandes cantoras líricas da actualidade, que tanto interpreta ópera, como oratória e Lied.

Para ver o texto do poema em alemão e numa tradução brasileira, poderão carregar neste link.

Para visualizar este vídeo, deverá utilizar o Internet Explorer e ter o Windows Media Player versão 9 (ou superior) instalado.



Esperamos que apreciem o Erlkönig e... estão com sorte! Desta vez não há trabalhos de casa.:)))

10 março 2006

Mais trabalho de casa! :)

Como não estamos cá no fim-de-semana, não podemos colocar um novo post no domingo. Assim, fica já aqui hoje o novo trabalho de casa: descobrir onde estão as tercinas no Andante do Concerto nº21 para piano e orquestra de Mozart.


A excelente interpretação é do pianista Vladimir Ashkenazy.

Divirtam-se e bom fim-de-semana para todos. :)

05 março 2006

O que é uma tercina?

(Cena da ópera Aïda na Arena de Verona)
Todos terão certamente reconhecido esta música: a célebre Marcha Triunfal da ópera Aïda de Verdi. Perguntarão agora o que é que esta marcha tem a ver com o título e onde é que entram as tercinas. Com efeito, a melodia principal deste trecho inclui um ritmo particular ao qual se dá o nome de tercina.

A maior parte das composições é efectuada com base numa subdivisão binária, ou seja, dentro de cada tempo podem existir 2 notas (colcheia), 4 notas (semicolcheia), 8 notas (fusa) ou 16 notas (semifusa). Porém, um compositor poderá desejar, num determinado momento, dividir o tempo em 3 notas, contrariando assim a subdivisão mais corrente. Para o efectuar, será necessário colocar três notas, no lugar de duas. A qualquer alteração da subdivisão de um tempo dá se o nome de quiáltera. As quiálteras de 3 notas chamam-se tercinas.

Depois de explicado o que são tercinas, iremos ver agora onde estas se encontram na melodia escolhida. Para tal, criámos um pequeno exemplo, onde o piano toca a melodia, enquanto um instrumento de percussão executa as tercinas. Se desejarem, poderão contar 1,2,3,1, sendo 1,2,3 as 3 notas da tercina e o último 1 a chamada nota de apoio. Temos assim 2 tempos: 1 com a tercina e o tempo seguinte com a nota de apoio.

Exemplo audio:

Exemplo gráfico:


Trabalho de casa: descobrir durante a próxima semana músicas com tercinas. :)