28 julho 2005

E agora vamos pr'a banhos!

BOAS FÉRIAS OU BOM TRABALHO
VENHAM ATÉ AQUI SEMPRE QUE VOS APETECER OUVIR UMA DAS NOSSAS MÚSICAS:)


Dance me to the end of love
Int. por Madeleine Peyroux


Ging Heut Morgen übers Feld
Lied de G. Mahler int. por Thomas Quasthoff


De quem dá
Mafalda Arnauth
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ODE À MÚSICA
(POEMA DE DAVID MOURÃO-FERREIRA - 1980)

I
É como se tivesses mãos ou garras
milhões de dedos braços infinitos
É como se tivesses também asas
libertas do minério dos sentidos
É como se nos píncaros pairasses
quando nas nossas veias é que vives
É como se te abrisses — ó terraço
rodeado de abutres e raízes —
sobre o perene pânico dos astros
sobre a constante insónia dos abismos
E é como se te abrisses e fechasses
sobre a antepalavra do Espírito
É como se morresses quando nasces
É como se nascesses quando expiras

II
Ó claridade Ó vaga Ó luz Ó vento
que no sangue desvendas labirintos
Ó varanda no mar sempre Setembro
Ó dourada manhã sempre Domingo
Ó sereia nas dunas irrompendo
com as dunas e o mar se confundindo
Ó corpo de desperta adolescente
já no centro de incógnitos caminhos
que por fora te aceitas e por dentro
pões em dúvida o sol do teu fascínio
Ó dúvida que avanças mas por entre
volutas de pavor que vais cingindo
Ó altas labaredas Ó incêndio
Ó Musa a renascer das próprias cinzas

III
Só tu a cada instante nos declaras
que renegas a voz de quem divide
Que a única verdade é haver almas
terrível impostura haver países
Que tanto tens das aves o desgarre
como o expectante frémito do tigre
tanto o céu indiviso que há nas águas
quanto o múltiplo fogo que há no trigo
Que és igual e diversa em toda a parte
Que és do próprio Universo o que o sublima
Que nasces que te apagas que renasces
em procura da límpida medida
Que reges o mais puro e o mais alto
do que Deus concedeu às nossas vidas

21 julho 2005

O musical The Producers de Mel Brooks ou Where did we go right?

Este é o nosso último post antes das férias. Dedicamo-lo à actriz Anne Bancroft, falecida no passado dia 6 de Junho, companheira de Mel Brooks durante 41 anos.


Goodbye do Musical The Producers
A história deste musical é curiosa, pois habitualmente a versão teatral é anterior à versão cinematográfica. Neste caso, verificou-se exactamente o oposto. Em 1968 Mel Brooks realizou um filme com o mesmo nome, tendo o musical , com música e letras da sua autoria, sido posteriormente levado à cena apenas em Abril de 2001 (veja aqui o diário da criação).
Neste momento, está já pronta uma segunda versão do filme, intitulada The Producers: The Movie Musical, protagonizada por Matthew Broderick e Uma Thurman, cuja estreia está prevista para o início do próximo ano. Estamos assim em presença de um musical baseado num filme que, regressando às origens, volta a ser novamente um filme.
Em 2001, foi também editado um disco que nos conduz através dos principais momentos do musical e cuja aquisição aconselhamos vivamente.

Referindo-se ao filme e ao musical, Mel Brooks declarou com o humor que o caracteriza: "Sou o único judeu que conseguiu ganhar dinheiro à custa de Hitler". The Producers conta-nos a história do produtor da Broadway, Max Bialystock, e do seu ingénuo sócio, o contabilista Leo Bloom, que pretendem montar o maior fracasso teatral de sempre, a fim de evitar distribuir dividendos aos investidores. O plano era gastar apenas uma fracção do capital na produção e embolsar eles próprios o restante.
Começam assim à procura da pior peça de teatro e dos piores actores, coreógrafo e encenador. Ao conhecerem um nazi, autor da peça "Springtime for Hitler", julgam ter encontrado exactamente aquilo que procuravam, ou seja, um enredo que nunca poderia ter sucesso, especialmente na Broadway. Contudo, os planos saem-lhes furados, pois o espectáculo é tão ridículo que o público pensa tratar-se de uma sátira e este torna-se num enorme sucesso.
Max e Leo são presos por fraude. Na cadeia de Sing-Sing montam o espectáculo Prisoners of love e obtêm assim o perdão por terem, com as suas canções, "enchido de alegria o coração de todos os presos". Depois de serem libertados, os dois tornam-se realmente produtores de sucesso.

Poderão ouvir aqui a faixa Never say good luck on opening night.

Poderão ouvir aqui a engraçadíssima faixa Where did we go right. Neste caso, right is wrong e wrong is right.


Já que estamos em tempo de férias, porque não uma viagem a Nova Iorque para assistir a este espectáculo na Broadway?:) Boas férias para todos!

18 julho 2005

O Lago dos Cisnes de Tchaikovsky

Na sequência do post anterior, vamos focar novamente um compositor russo, Pyotr Ilyich Tchaikovsky que, apesar de possuir uma vasta obra, é sobretudo conhecido pelo grande público como autor de música para bailado.
Não nos vamos alongar em grandes considerações, pois conseguimos obter um video cuja visualização valerá mil palavras. Trata-se de uma nova encenação do segundo quadro (Valse) do bailado O Lago dos Cisnes op. 20. , interpretada por dois bailarinos alemães, cuja coreografia reflecte, na suavidade dos movimentos, o carácter ultra-romântico da música de Tchaikovksy.

Como sempre, desligue o som do canto superior direito antes de carregar no botão play.










(Excerto do show "Auto, auto" de Christian von Richthofen e Stefan Gwildis )

10 julho 2005

Foi extinto o Ballet Gulbenkian

No passado dia 5 de Julho, o Ballet Gulbenkian, criado em 1965, foi oficialmente extinto através de um comunicado do Conselho de Administração da Fundação. O programa Ritornello da Antena 2 assinalou, na última quarta-feira, esta triste data para todos os amantes da dança, apresentando uma emissão especial dedicada ao Ballet Gulbenkian. Nela foram transmitidas várias obras que aquela companhia de dança apresentou ao longo de quase 40 anos de existência.
Decidimos solidarizar-nos com esta iniciativa, focando hoje uma obra levada à cena, com grande êxito, pelo Ballet Gulbenkian: A Sagração da Primavera de I.Stravinsky. (Programa 1/ Programa 2).


Têm estado a ouvir o princípio do último andamento da Segunda Parte desta obra, Danse Sacrale. Este bailado é composto por duas partes, A Adoração da Terra e O Sacrifício. A obra foi estreada a 29 de Maio de 1913 no Teatro dos Campos Elíseos, tendo provocado nesta ocasião um considerável tumulto. Um ano mais tarde tornou a ser apresentada em Paris, desta vez com grande sucesso.

Informação sobre I.Stravinsky
Informação sobre A Sagração da Primavera
Informação sobre os Ballets Russes

No Século XX foi dado um passo muito importante na libertação do ritmo da "tirania" da barra de compasso, nomeadamente por Stravinsky que introduziu na sua música irregularidades rítmicas. Na Sagração da Primavera esta técnica pode ser mais facilmente identificada no 2º andamento da primeira parte, denominado Les Augures printaniers - Danses des adolescentes, que poderá ouvir aqui:

Por favor desligue o som no canto superior direito antes de carregar neste botão.

Ao ouvir o início do exemplo, tente efectuar a seguinte contagem, pronunciando o número 1 com mais força:
123456789 12 123456 123 1234 12345 123

O próprio Stravinsky, referindo-se ao ritmo nas suas obras, afirma o seguinte:
"Um dos principais problemas na execução da minha música é a marcação dos tempos. Uma peça minha pode sobreviver a quase tudo, excepto a um andamento errado ou inseguro (...) O problema da execução estilística da minha música é de articulação e de dicção rítmica. A nuance depende delas. Articulação é principalmente separação."

O compositor, durante uma entrevista conduzida por Robert Craft, ao ser-lhe pedido que desenhasse a sua música efectuou o seguinte esquema:

Robert Craft: Poderia desenhar a sua música recente? Por exemplo:

Igor Stravinsky: Esta é a minha música.
Esperamos que não seja necessário colocar um post para marcar a data de extinção da Orquestra ou do Coro Gulbenkian:)

02 julho 2005

Kinderszenen de Robert Schumann

A obra Kinderszenen op.15 (Cenas Infantis) de Robert Schumann é uma das suas mais importantes peças para piano da sua fase inicial. Este ciclo, composto em 1838, é constituído por 13 pequenas peças que formam um todo homogéneo. É mesmo possível classificar esta obra como "Um tema com variações", apesar de Schumann não seguir o modelo clássico de Haydn ou Mozart (regras fixas sobre o modo como as variações são compostas), mas efectuar principalmente variações da melodia.
Existe nesta obra um tema principal que é apresentado na mini-peça nº1, Von fremden Ländern und Menschen, a qual poderá ouvir aqui:

Interpretado por Viktor
Todas as outras peças têm por base um de três motivos os quais, por sua vez, se baseam no dito tema principal.

Poderá ouvir aqui o tema principal tocado na mão direita (registo agudo) e seguidamente este mesmo tema tocado na mão esquerda (registo grave).


Por favor, desligue o som do canto superior direito antes de carregar neste botão

Embora este tema principal apareça de alguma forma em todas as mini-peças, o carácter de cada uma delas é completamente diferente, dado que todas são peças programáticas. Isto significa que estas pretendem descrever um estado de espírito, um objecto ou uma situação, tal como se de um quadro se tratasse.
Os títulos das 13 mini-peças são os seguintes:

1. Von fremden Ländern und Menschen / Acerca de países e pessoas estrangeiros
2. Kuriose Geschichte / História curiosa
3. Haschemann /Jogo da cabra-cega
4. Bittendes Kind /Desejo de criança
5. Glückes genug /Completamente feliz
6. Wichtige Begebenheit /Um acontecimento importante
7. Träumerei /Sonho
8. Am Kamin /À lareira
9. Ritter vom Steckenpferd /O cavalo de baloiço
10. Fast zu ernst /Quase demasiado sério
11. Fürchtenmachen /Assustar
12. Kind im Einschlummern /Criança a adormecer
13. Der Dichter spricht /O poeta fala

Poderá ouvir aqui a mini-peça nº7, porventura a mais conhecida, intitulada Träumerei.

Interpretado por Viktor

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Neste link poderá ouvir excertos de todas as 13 mini-peças executadas pelo pianista Vladimir Horowitz (a primeira faixa do disco não pertence a esta obra).