04 dezembro 2005

Basics II - As Dinâmicas

Nas obras musicais há habitualmente alterações na intensidade do som. Assim, uma parte da peça pode ser tocada ou cantada com uma maior intensidade do que uma outra parte da mesma peça. A estas variações de intensidade dá-se o nome de Dinâmica.

Estão a ouvir o 1ºandamento, O Fortuna, da obra Carmina Burana de Carl Orff. Como podem verificar, este excerto é um bom exemplo da passagem de uma grande intensidade (fortissimo) para uma pequena intensidade (pianissimo). No final do andamento, voltamos à dinâmica de fortissimo.
Esta obra foi composta em 1937, pertencendo assim a uma época na qual já se exploravam todas as possibilidades das dinâmicas. Contudo, nem sempre foi assim.

No período barroco, as possibilidades de exploração de contrastes entre a intensidade dos sons eram muito menores, devido às limitações dos instrumentos musicais da época. Estes conseguiam poduzir sons em piano (uma pequena intensidade) e sons em forte (uma grande intensidade), mas não conseguiam executar sons em pianissimo, nem em fortissimo.
Os compositores do barroco utilizavam frequentemente nas suas obras a oposição entre forte e piano, sem haver crescendos (aumento gradual da intensidade do som) e diminuendos (diminuição gradual da intensidade do som).
Poderão ouvir aqui o 3ºandamento do Outono das 4 Estações de Vivaldi que exemplifica esta alternância entre forte e piano. Neste exemplo, encontramos, por vezes, até a mesma frase musical executada primeiro em forte e depois em piano.

No período seguinte, o período clássico, devido à evolução dos instrumentos, os compositores incluem já nas suas obras uma gama mais alargada de dinâmicas. Surge a possibilidade do fortissimo (por exemplo, início da 5ª Sinfonia de Beethoven) e do pianissimo (por exemplo, andamentos lentos dos concertos para piano e orquestra de Mozart).
Num dos primeiros posts, referimos o aguçado sentido de humor de Haydn. Em 1791, este compôs uma sinfonia, intitulada Sinfonia Surpresa, na qual brinca com a utilização das dinâmicas.
No início do 2ºandamento, ouvimos o tema, primeiro em piano e depois em pianissimo, quando de repente surge um acorde em fortissimo (daí o nome da sinfonia). Tecnicamente, trata-se de um sforzando, ou seja uma acentuação repentina.
Poderão ouvir aqui o início deste andamento da Sinfonia Surpresa de Haydn.

Percorremos assim as principais dinâmicas, segundo as várias épocas. Falta apenas dizer que na época do romantismo, houve uma maior utilização do crescendo e do diminuendo. Nas sinfonias de, por exemplo, Brahms, Bruckner e Mahler e em óperas de Wagner encontramos passagens onde podemos ouvir grandes crescendos e diminuendos que por vezes podem durar alguns minutos. Existe até uma peça totalmente construída sobre um crescendo, o famoso Bolero de Ravel que todos certamente conhecem.

11 Comments:

Blogger wind said...

Como explicas bem estas coisas todas:) E continua-se aprendendo por aqui e a ouvir boa música;) beijos

5/12/05 11:24  
Blogger andorinha said...

Interessante, sem dúvida!
Continuo a minha aprendizagem...
Obrigada por estes momentos.
Beijinhos.:)

5/12/05 20:15  
Blogger Mitsou said...

Mais uma aula preciosa. Obrigada!
(Não sei se já lhes perguntei, mas que tal um livro com estes posts? Edição com cd, claro! Eu compro, de certeza!)

Beijinhos doces!

6/12/05 22:59  
Blogger Perola Granito said...

queres visitar-nos tb?

10/12/05 16:22  
Anonymous Anónimo said...

Viktor,
Seriam só as possibilidades dos instrumentos que ditavam a dinâmica? Mas a voz sempre permitiu pianíssimos e fortíssimos, etc., e o pianoforte até já existia desde o início do séc. XVIII e ninguém lhe ligava muito... Então o que faltava? Uma concepção diferente da música? Não foi uma vez mais a escola de Mannheim, de que o Viktor já falou a propósito da sinfonia, que "inventou" o crescendo e diminuendo?

11/12/05 04:38  
Blogger viktor said...

Claro que a questão estilística também é importante. Uma das características da 1ªEscola de Viena é a utilização do crescendo e do diminuendo. Porém, atribuir a "invenção" à escola de Manheim poderá ser complicado. Digo isto porque já toquei Stamitz. Nalgumas passagens podemos encontrar variações de dinâmica, mas ainda como uma herança do barroco.
Aliás, já Carl Philip Emanuel Bach incluia algumas (poucas) variações de dinâmica e maestros actuais utilizam crescendos e diminuendos em obras do barroco. Como fazer o início do 1ºandamento do Inverno das 4 Estações de Vivaldi sem um crescendo?
Outra explicação para o aparecimento do crescendo, é uma questão formal. Imaginemos uma Forma Sonata, um primeiro tema em forte, um segundo tema em piano e inevitavelmente um crescendo que nos conduz a uma coda da exposição.
Em conclusão, a par da evolução das técnicas, houve uma transformação estilística que se iniciou no barroco, desenvolveu-se com a escola de Manheim e finalmente consolidou-se com Haydn, Mozart e Beethoven. Assim, não encontro um verdadeiro "inventor" do crescendo, mas há alguns "culpados" lá para os lados de Manheim :)

11/12/05 11:37  
Anonymous Anónimo said...

Viktor,

Obrigada pelo esclarecimento. Retiro já os "inventores"... que fiquem então só alguns "culpados" :)

11/12/05 14:08  
Blogger viktor said...

Wind, Andorinha e Mitsou,

Vai haver uma série de posts acerca dos "Basics" da música.
Bjs. e resto de bom fim de semana.

11/12/05 15:01  
Blogger Menina Marota said...

Tenho que confessar que saio daqui com um pouco mais de sabedoria, sobre música.

Carmina Burana é uma das minhas favotitas!

Grata pela partilha e boa semana ;)

12/12/05 13:52  
Blogger Poesia Portuguesa said...

A música é essencial na nossa vida. Assim explicada, sente-se muito mais...

Um abraço e grata pela partilha ;)

12/12/05 13:54  
Blogger viktor said...

Menina Marota e Poesia Portuguesa,
Obrigado pela visita. O meu conceito de educação musical é apreciar melhor a música através de alguns conhecimentos.
Bjs.

Stillforty,
Olá prima. Obrigado pela sugestão. Já fiz a alteração nos links.
Bj.

12/12/05 22:35  

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